Acordei bem disposta, ainda reflexo de uma noite de sonhos altos. Fui inscrever-me no Curso de Formação Pedagógica de Formadores. E acabei por ter comigo uma colega inesperada. A minha mãe inscreveu-se comigo no curso. Vai ser bom para passarmos algum tempo juntas, e vai ser bom sermos colegas de “escola” =) Almocei com o meu primo que trabalha na Rumos e segui para a Cinemateca. A Cinemateca Portuguesa é um espaço, em que ao mesmo tempo que é o Museu do Cinema, é um local onde se pode tomar um fantástico chá no 39 degraus (eu contei-os, e são de facto 39 =)), onde podemos visitar a livraria, onde interessa acompanhar o que se fez no cinema que tivesse marcado a sua história, ou em última análise a história de cada um de nós.
Pacientemente e sem nunca deixar de acreditar =P o meu amigo Bruno "Ora Essa Por Quem Sois”, lá assinalava com bolas a lápis, que é como ele gosta de escrever, os filmes que eu não podia perder. Para desgosto dele e humilhação minha, lá ia eu adiando a visita ao mesmo tempo que ia mostrando interesse por cinema mais recente, enquanto ele me fazia ver que o interesse da Cinemateca era ver filmes que dificilmente se encontrariam noutro circuito. Optei de facto por um filme já deste século, Boys don’t cry, mas que tinha perdido nas salas de cinema. Comprei o bilhete e fui conhecer o local. Entrei na cúpula estrelada e fresca (neste dia quente) e fiquei contente por ter já o bilhete na mão. =)
Esta tarde, estive bem-disposta, sorria por onde passasse e alegrava-me com as pequenas coisas... principalmente com aquelas que habitualmente não ligo por estarem tão ao alcance, aquelas que tenho pena de não me lembrar nos dias ditos normais... mas que o dia de hoje exigia celebração. A manhã que me sorriu, ou eu a ela, as árvores que me proporcionavam um jogo de sombras ao longo da Avenida da Liberdade, os turistas que passeiam por Lisboa o ano inteiro, o poder andar a pé nesta cidade de luz, o cruzar-me com pessoas bonitas, o cruzar-me com pessoas menos bonitas mas que um dia vão descobrir que tudo não passa de uma luz interior que (man)têm neste momento fosca, o movimento, tudo o que Lisboa começa a oferecer aos que se passeiam e aos residentes, com a chegada dos meses de Maio e Junho. Fui a pé até à Praça do Comércio, imponente, bonita, e que me traz várias memórias de momentos breves e intensos, que me deixa indecisa se a prefiro ver com as luzes da noite ou com a luz do dia. Muitas máquinas fotográficas, muitas famílias, uma chegada ao rio para tornar a subir, a atravessar ruas, a aproveitar os últimos minutos para espreitar as ruas que há muito não visitava, Madalena, Fanqueiros, Conceição, Ouro, Crucifixo...
Cheguei à Culturgest =), e trabalhei =), e vi Susana Baca =), que encantou pela sua cara de senhora sexagenária, de rugas cravadas... principalmente aquelas acentuadas pelos sorrisos e todas as emoções pelas quais terá passado e que de forma ousada e descontraída mostrou neste concerto, num resultado quente de senhora peruana. Surpresa total quando na sua pronúncia mal pronunciada introduz os versos de Damien Rice (esse que me acompanha em tantas noites de escrita, pensamentos, sonhos...) em Volcano:
“ What I am to you is not real
What I am to you you do not need
What I am to you is not what you mean to me”
[E o que seremos uns para os outros? Será real?
Seremos para os outros o que eles precisam?
Significaremos para os outros o mesmo que eles significam para nós?
E para ti? O que sou? O que significo? É isto que precisas?]