Palavras que reli(a) tantas vezes... que me escapavam e sempre vivi no medo de me escaparem. Porque gosto de palavras, de as tratar bem, de não me parecerem (nem de longe) difusas. Porque, não (a mim!), podem (a)parecer. Se parecem, escondo-as em mim, resguardo para que um dia o sentido sobressaia, para que, não percebendo à primeira, possa debruçar-me melhor, ler por partes, por fragmentos, (como tantas vezes li assim as mensagens), por ideias e aquelas que julgo ter e concordar e que afinal nunca sequer passaram no meu mundinho... Mundão. Nesta vertigem que me foi apresentada, uma espiral em que entrava e sonhava e que muitas vezes me punha sem sentido e até estonteada. Nunca percebi tal estonteamento. Percebo agora. Nunca foi mau... talvez eu não tenha percebido bem. Talvez nem valha a pena pensar nisso. Talvez agora chegue de talvez que me atrofiam, bloqueiam. Talvez seja só eu que me bloqueie. Sou sim.
Palavras tantas descuidei. Por não as usar, por as usar mal, por (as) usarem por mim.
Hoje sento-me aqui, invariavelmente sem imaginação, com tantas palavras que quero despejar para acompanhar todos os dias, os dias-sim, dias-não, porque me faz chegar mais perto de mim, porque me distancia de mim,porque me confunde e esclarece, porque quero acreditar que despejando a confusão para fora ela não se mantém cá dentro!
Ah, vã ilusão!...
"O que difere algo deliberado de algo circunstancial, é que este é um pleonasmo. Pois tudo é uma circunstância, mesmo o que se sente. (eu diria, principalmente o que se sente, JV) São as condições da possibilidade (as possibilidades perigosas de que nos tornamos dependentes), o algo conjuntural e o seu algo voluntário (a conjuntura que tornámos voluntária, o tornarmo-nos voluntários da própria conjuntura), que tornam o possível em existente. E é esta a liberdade que possuímos, irredutivelmente, que nos faz pensar que temos uma riqueza concreta e individual (e que aliada a essa riqueza que tem de ser liberta, concreta individual, pasme-se! tem de ser ainda responsável, eticamente aceite, muito satisfatória, de luta constante) que podemos mudar as coisas e que o ir sendo não deve perder-se na trituração do quotidiano (oh, mas que medo me assola a este respeito. Sabe-lo bem! A mediania, o ir-indo. E depois o querer ser simples nesta complicada normalidade). Mas antes com instantes-limite, por pequenos fenómenos da vida alheios à normalidade (a busca que sufoca, por vezes...) A responsabilidade de sermos livres traz a angústia da decisão, porém é ela que nos fosforece para a cognoscibilidade de que existimos (e é esse o meu consolo e o meu suspiro último, o descanso do guerreiro e derradeiro optimismo). A cada instante, decidimos. A cada instante, vivemos. Tudo é circunstância e tudo nesse "tudo" é transformável. Se o mundo é absurdo, a única ordem é a nossa liberdade ("é preciso muito caos interior para parir uma estrela que dança" Nietzche) e, com ela, a existência despojada de culpas circunstanciais (falta-me este último fragmento. Interiorizá-lo, pois então!), pois:"Só por distracção ou imbecilidade ou por crime se não vê ou não deixa ver que ao mesmo homem impende a tarefa ingente e grandiosa de se restabelecer em harmonia ao mundo, para que em harmonia a sua vida lucidamente se realize desde o nascer até ao morrer" Virgílio Ferreira, dedicado a ele e à vida." in Triângulo Vertiginoso, by JCV
Obrigada por me teres dado a (re)conhecer esse autor tão deprimente como se tornam todos aqueles que o acham, como se torna aos meus olhos todo aquele que não o compreende (ai, a minha malícia :))
Já foi em Out 2006: assustadoramente :*
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